Arquivo do mês: dezembro 2007

Calo e silencio bolhas de mim que puuufff no ar. 


Saberei me calar também por dentro

– deixar meu olho cego

para ver o que há

invento?


Miro

Miró Mirabolante

Mirabolâncias  manquitolantes.


Uma dó –

às vezes em mi.  


Atalho um destino inventado de urgentes importâncias.


Alegria: vida clandestina a dela, se escondendo em labirintos ao invés de brotar viva do chão onde se pisa.


“GENALVA, VEM ME BUSCAR QUE EU ESTOU ODIANDO”. Azar que estivesse odiando. Não fui porque odiava de morte que me chamassem assim. Até aceitava Nalva, Nalvinha, mas preferia mesmo Gê. E ele sempre soube disso. Aí ignorei de cara o recado na secretária eletrônica. Se ele tivesse dito apenas “Genalva” e a ligação caído ali mesmo, antes do resto, não  teria ficado nem curiosa. Só furiosa. Com um vocativo desses, nem pensar em contar comigo, meu bem, sequer contar pra mim. Foda-se. Sem dinheiro, cartão bloqueado, ligou a cobrar. Ainda bem que não estava em casa. Acho que aí eu teria sucumbido. Na secretária, a voz fica menos apelativa. A máquina faz esse efeito. Bem que avisei. Foi do mesmo jeito. Azar. Odiou. Claro, eu sabia. Aliás, deve ter odiado bem mais cedo. Teve coragem de assumir só depois, assim, meio que pra não me dar de bandeja com guardanapo de linho engomado que eu estava certa desde o início.  Alimentei durante dias a heróica relutância em fazer um movimento para atender seu apelo. Fantasiava seu arrependimento: muita chuva, frio, gente branquela e solene. Quando chegou e me chamou de Gê abri logo o jogo. “Não fui. Tu me chamou de Genalva. Qual é a tua?”. E ponto. Me pôs na cama e antes mesmo do vinho gemeu Gê, Gê, Gê. Entre mordidas de macho e lambidas na minha outra perna, Astolfo rendeu-se à epifania do nosso gozo. Devolveu roupas pro armário e jogou a mala pela janela. Banhou-se e com uma palmada na minha bunda convidou que ia fazer macarrão.(proposta do logoraly da Revista Piauí – dezembro/ 2007)


Chegará o dia em que se esgotarão as maneiras de te falar da minha saudade e do meu amor por ti. Então, simplesmente silenciarei, batuta cortando o ar depois do último movimento.

Chegará o dia em que se esgotarão as maneiras de te falar da minha saudade e do meu amor por ti, e não lerás o jeito que escolhi dizer “acabou”.

Chegará o dia em que se esgotarão as maneiras de te falar da minha saudade e do meu amor por ti. Sem saberes, cruzarei as pernas em desdém, não mais um louva-a-deus.

Chegará o dia em que se esgotarão as maneiras de te falar da minha saudade e do meu amor por ti.

Chegará o dia em que se esgotarão as maneiras de te falar da minha saudade.

Chegará o dia em que se esgotarão as maneiras de te falar.

Chegará o dia.

Chegará?

Chega.

Ri.


Rio dos risos lavados

Rio dos olhares prostrados

Rio dos amores falidos

Rio dos sonhos cariados

Ri-os

Aprendi a sorrir

Aprendi a passar


Fui até tua cama querendo ecos da tua alma, nem precisava inteira.